É como traduzir o silêncio que me sustenta. Páginas em relevo com o meu sagrado. Meu segredo. Secreto santuário. Flores do meu jardim, frutos do meu quintal. Mais uma parte que parte, põe-se a caminho, segue viagem, vai embora, retira-se, afasta-se, foge. Mais uma parte que parte, dividi-se, separa, quebra, reparte-se. Mais uma parte que parte, tem origem ou começo, procede, provém, decorre, deriva, nasce de mim.Mais uma parte do segundo mais tarde, nas ruas que escolhi.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

mudança



Sinto como se o tempo passasse mais rápido agora
Tenho Cartas para escrever
Coisas para ajeitar
Empacotar tudo
Lavar toda a roupa e passar
Lembrar de não esquecer nada
Tenho que ficar em silêncio
Pegar o DVD
Aquietar pensamentos
Acalmar o tempo
Cuidar da saudade
Pagar a passagem
Não posso mais esquecer datas de aniversário
Quando aprenderei?
Tenho 3 semanas para isso
Juntar coisas de mim
Acordar mais cedo
Aproveitar cada momento
Não posso esquecer-me disso!
E meus amigos quando escreverei para eles?
Como saberão que estão em mim?
Tenho que organizar tudo
Será que cabe em um espaço?
Nos pedaços das coisas que junto agora
Estão a melhor parte do que se fez de mim
Em fragmentos, em partes, em metades
Em desconexões, mas, está tudo aqui
Eu não posso esquecer-me disso!
O que digo? O que sinto? O que sou? Para onde estou indo?
Deus!Falta nexo, sentido. Incoerência!
Mas, é o melhor de mim que vai
Para um melhor em mim
Eu só tenho que organizar tudo
Ajeitar tudo em um espaço
Colocar na caixa e subir
Sem espaço
Em quanto tempo se desfez o que eu deixo?
O que mesmo tenho que levar?
...É melhor só escrever as cartas
Deixar tudo certo com quem importa
Quem se importa?...
Falto em alguns compromissos
Tenho só alguns dias
O tempo se esvai
Tem mais coisas
Mas, não é para pensar no que esquecerei.
O melhor de mim em um espaço.
Um passo
E tudo mais será esquecido na poeira da estrada.

domingo, 14 de novembro de 2010

estou

    "Estou tonto, 
    Tonto de tanto dormir ou de tanto pensar, 
    Ou de ambas as coisas. 
    O que sei é que estou tonto 
    E não sei bem se me devo levantar da cadeira 
    Ou como me levantar dela. 
    Fiquemos nisto: estou tonto. 

    Afinal 
    Que vida fiz eu da vida? 
    Nada. 
    Tudo interstícios, 
    Tudo aproximações, 
    Tudo função do irregular e do absurdo, 
    Tudo nada. 
    É por isso que estou tonto ... 

    Agora 
    Todas as manhãs me levanto 
    Tonto ... 

    Sim, verdadeiramente tonto... 
    Sem saber em mim e meu nome, 
    Sem saber onde estou, 
    Sem saber o que fui, 
    Sem saber nada. 

    Mas se isto é assim, é assim. 
    Deixo-me estar na cadeira, 
    Estou tonto. 
    Bem, estou tonto. 
    Fico sentado 
    E tonto, 
    Sim, tonto, 
    Tonto... 
    Tonto." [Álvaro de Campos*]

Sinto-me assim: tonto!  
Consequência do que se quebrou. 
Permiti.

*Álvaro de Campos é dos mais um dos heterônimos mais conhecidos do poeta português Fernando Pessoa. Este fez uma biografia para cada um dos seus heterônimos e declarou assim que Álvaro de Campos: «Nasceu em Tavira, teve uma educação vulgar de Liceu; depois foi mandado para a Germânia estudar engenharia, primeiro enfermaria e depois naval. Numas férias fez a viagem ao Oriente de onde resultou o Opiário. Agora está aqui em Lisboa em inatividade.»
Era um engenheiro de educação inglesa e origem portuguesa, mas sempre com a sensação de ser um estrangeiro em qualquer parte do mundo. Pessoa disse também em relação a este heterónimo que :

"Eu fingi que estudei engenharia. Vivi na Escócia. Visitei a Irlanda. Meu coração é uma avozinha que anda Pedindo esmolas às portas da alegria."
"Que náusea de vida !
Que abjecção esta regularidade ! Que sono este ser assim !"



quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Quebrei por dentro

Não há nada errado!
Sinceridade,
Parceria,
Confiança,
Dá quem tem!
Quem tem espera!
Quem espera,
Chora.

Cada um faz o que pode.
Todos tem medo.
E por isso, tudo podem,
Tudo justificam,

Já era para ter me acostumado ...
Mas, hoje eu choro.

É o choro da despedida.
O choro da desilusão.
O choro do que se desfaz.
Hoje, choro o choro dos tolos...

Não há nada de errado!
...Quebrei por dentro.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Desejo o silêncio

O que desejaria além do silêncio Supremo?
Renunciar ao que preenche a superfície do meu ser profundo
Soltar-me!
Libertar-me!
Limitações da percepção
Limite em linhas tortas e retas que em formas configuram minha restrição e isolamento da Realidade
Formas que limitam o infinito da existência
Desprender-me!
A Verdade de todas as coisas está no silêncio de todas as coisas.
O que desejaria além do silêncio?

"A minha preocupação não está em ser coerente com as minhas afirmações anteriores sobre determinado problema, mas em ser coerente com a verdade." [Mahatma Gandhi]
Ps. Como Graça Divina, desejo o silêncio.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

"O que você faria se não tivesse medo?"

Se pudesse rasgaria a página de ontem.

Achei a frase de Richard Bach que me ajuda a expressar esse sentimento: "O mundo é o seu caderno, as páginas em que você faz suas somas. Não é a realidade, embora você possa exprimir a realidade ali, se quiser. Você também tem a liberdade de escrever tolices, ou mentiras, ou rasgar as páginas." 

Escrevi tolices e mentira. Rasgaria a página.


Por outro lado, o mesmo diz: "There are no mistakes. The events we bring upon ourselves, no matter how unpleasant, are necessary in order to learn what we need to learn; whatever steps we take, they're necessary to reach the places we've chosen to go.
 Que diz que - tradução livre - Não há nenhum erro. Os eventos que acontecem, não importa quão desagradáveis sejam, são necessários na ordem que acontecem para aprendermos o que precisamos aprender; independente dos passos que damos (ou etapas que passamos), esses passos (ou etapas) são necessários para chegar onde escolhemos ir.

Então, talvez não há motivo para rasgar nada. Faz parte do que preciso aprender, no fluxo e ordem perfeita dos acontecimento para "me capacitar" e poder caminhar por onde escolhi e cumprir um compromisso íntimo. E por que pensei em rasgar? Por falta de conragem de olhar? Coragem!

Aceitar, conscientizar-se, aprender e seguir no caminho escolhido. Coragem!

Falando em coragem, ainda de  Richard Bach, faço a pergunta: "O que você faria se não tivesse medo?"
Até onde você iria?  Se não tivesse medo, qual seriam os seus limites? Hoje, talvez responderia, que iria até onde posso aceitar. Mas, até onde eu aceito? E por que não aceitaria algo que é possível acontecer? O que me limita além do medo? 

... em reflexão...

Gostei dele.



quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Um sonho azul


Acordei de um sonho bom.
Sonhei e acordei.
Um sonho cor de azul
_você esqueceu da...granola, do mel, do tênis.
_esqueci parte de mim...
_ Vai viajar sem tênis? E vai com essa roupa mesmo? A noite sempre é mais fresquinho! Você vai sentir frio!
O que fazer com corações que se partem na despedida de um abraço que deveria durar um pouco mais?
_Você acredita que as coisas acontecem por um acaso?
Ih! Essa falta vai me incomodar
Vou chorar baixinho e ninguém vai ouvir
A inspiração e a expiração, um grito
No meu céu infinito
Quase um mito.
Um sonho.
O que fazer com tantas respostas que calam no silêncio inquieto de minhas inquirições?
_Como encontrar a paz na solidão?
De um jeito tão sereno, a resposta era certa, sobrou solidão.

Você partiu.
O que fazer de mim sem paz?
Respiração!
Preciso falar com Deus
...
Um jeito tão sereno
Doce
Fala devagar
_Não acredito em acaso!
Como dizer não ao inevitável?
Tinha certeza do caminho e esqueci
...esqueci parte de mim
O sol brilha na janela
Acordo de um sonho
E agora?
O que fazer com àquelas horas?
Vou chorar baixinho e ninguém vai ouvir
Um choro de saudade do impossível
Essa falta vai me incomodar
O meu olhar ainda vê meu corpo ao sol que nasce em ritmo lento

No tempo que tudo pára

Relatividade!*
Vem que ainda sinto frio
É mais fresquinho quando amanhece
Troco todos os meus planos para decifrar a jogada
Um toque, a respiração
Ar entrando e ar saindo
Retenção sem ar
Foco em você
Ciclos de 4, ritmo de 3, 21 vezes
Os segundos são os sons das batidas no meu peito
Da próxima, 108!
Vou me acostumar
Com um erro meu
Sentar em silencio e entender
As coisas que explicava com tanta convicção
Quando as perguntas eram da falta de paz na solidão
E agora?
Eu quase amo
O que fazer de mim sem paz, na solidão.
A rosa se esconde no cabelo mais bonito
É um mito
Uma prova de amor
A força para lembrar é um esforço para esquecer
Choro de saudade Do impossível
Vivo para esquecer O envolvimento
De mim com um espelho que reflete todos meus desejos, receios, pecados
Você acredita que as coisas são somente coincidências?
Parte de mim ficou
Se tivesse mais alguns segundos, nossos abraços durariam mais do que tempo
Unidos no ato sincrônico de respirar
Vou falar com Deus
No silêncio do meu céu azul
Azul do sonho
Infinito dentro de mim

...
Notas:

  • Aconteceu de verdade? Qual a parte do sonho era realidade? Em que fragmentos?

  • E se eu realmente quiser falar com Deus: “tenho que ficar a sós, tenho que apagar a luz, tenho que calar a voz...tenho que folgar os nós dos desejos, tenho que ter mãos vazias, ter a alma e corpo nu, tenho que me aventurar, tenho que subir aos céus sem cordas para segurar. Tenho que dizer adeus, dar as costas, caminhar, decidido pela estrada que ao final vai dar em nada, nada , nada do que eu pensava encontrar.”

  • *Einstein publicou a Teoria Geral da Relatividade, o que envolve uma quarta dimensão: o tempo. As conseqüências dos postulados da relatividade contestam o absolutismo de tempo e espaço. A respeito do tempo que às vezes sinto parar, como no caso do nascer do sol, é explicada pelo fato de o tempo do amanhecer  em relação a mim que observava era maior que o tempo - ou minha percepção de tempo – do acontecimento das coisas dentro de mim. Talvez uma tempestade íntima acontecesse às 5h30 da manhã daquele dia em que esperava em silêncio a Terra girar.   "O intervalo de tempo em um referencial em movimento em relação a um observador externo parece ser, para este, maior que o seu próprio intervalo de tempo. Explicando melhor, se um fenômeno periódico que no referencial de um dado observador inercial ocorre com um período T parece ocorrer em um período T' maior num referencial inercial movendo-se em relação a este." [Via Wikipedia]