É como traduzir o silêncio que me sustenta. Páginas em relevo com o meu sagrado. Meu segredo. Secreto santuário. Flores do meu jardim, frutos do meu quintal. Mais uma parte que parte, põe-se a caminho, segue viagem, vai embora, retira-se, afasta-se, foge. Mais uma parte que parte, dividi-se, separa, quebra, reparte-se. Mais uma parte que parte, tem origem ou começo, procede, provém, decorre, deriva, nasce de mim.Mais uma parte do segundo mais tarde, nas ruas que escolhi.

sábado, 30 de outubro de 2010

Por que Meditar?

Talvez muitos já tenham ouvido falar sobre os "efeitos colaterais" da meditação. Em pesquisa, encontrei esse texto enviado pelo grupo de e-mail da comunidadeZen Budista de Florianópolis,comunidade da qual participei enquanto morva lá. Esse texto elucida muito bem esses efeitos e principalmente os motivos para se meditar. Coloquei em negrito as partes que se aproximam de minha própria experiência e percepção. Para exclarecer, no Zen praticamos o zazen, "apenas sentar". Sentar em silêncio, com a mente aberta sem aceitar nem rejeitar nada. Apenas sentar. Ter a "experiência direta da realidade". Vale muito a pena ler o texto! Principalmente para quem ainda tem dúvidas a respeito do porque meditar ou procura uma motivação maior para começar nesse maravilhoso caminho! Apesar de ser um texto muito claro e até mesmo preciso, nenhuma explicação chega perto da experiência! Pare, sente, respire!


Diz-se que a meditação pode trazer benefícios físicos e mentais a quem a pratica com regularidade. Segundo estudos médicos, os seus benefícios variam entre o desenvolvimento da capacidade de concentração e de raciocínio a melhorias na atividade do sistema imunológico, a alívio de insônias e problemas relacionados com pressão alta e curas emocionais. Os praticantes Zen não deixam, porém, de contrair doenças, de sofrer, de morrer. A meditação não é um meio para se alcançar a imortalidade física ou para se libertar das leis da natureza.

Somos o que pensamos.
Tudo o que somos provém
dos nossos pensamentos.
Com os pensamentos
Fazemos o mundo.
(do Dhammapada)

Ver as coisas como elas são, incluindo nós mesmos, é o principal motivo que leva os praticantes Zen a meditarem. De um modo geral, não nos damos conta da relação entre os padrões habituais da nossa atividade mental e o sofrimento que eles causam a nós e aos outros. A observação consistente da mente, durante a meditação e ao longo do dia, revela-nos que grande parte do nosso tempo é despendido a correr atrás de certas coisas e circunstâncias e a rejeitar outras. Damo-nos conta que dependemos uma parte considerável do nosso tempo e da nossa energia a reciclar prazeres e agravos do passado, ou ocupados em como podiam ou deviam melhorar as coisas no futuro, comparando constantemente pessoas e coisas, encarando-as segundo categorias dualistas como bem e mal, desejável e indesejável, certo e errado, culpado e inocente, amigo e inimigo, etc.

Ao meditarmos, passamos a ver com maior clareza os nossos preconceitos e apegos, e isto faz com que procuremos aperfeiçoar o nosso caráter. A observação simples, honesta, não verbal, dos nossos processos mentais e emocionais produz de fato uma mudança no modo de como encaramos as situações e as pessoas que encontramos. O efeito final é uma aproximação à vida que se manifesta em atitudes de não rejeição e de não apego, de não distorção da verdade, de obtenção do excesso de satisfação de desejos e de não cedência ao auto-engano. Esta maneira de viver manifesta-se quer num plano pessoal quer num plano social, e decorre mais de uma profunda compreensão interior do que de um ato de vontade. Como consequência, tornamo-nos menos propensos, por exemplo, a tirar proveito egoísta da natureza ou do próximo, a voltar as costas à vida por ingestão de químicos ou de drogas, a fechar os olhos às necessidades dos outros e aos efeitos das nossas vidas no meio ambiente.

Uma prática contínua de plena atenção ao longo de muitos anos pode dar origem a experiências de profunda compreensão interior que transformam a visão que temos de nós mesmos, ao ponto de podermos ver que o eu a que estivemos ligados prazenteiramente ao longo da nossa vida mais não é do que uma miragem auto-construída. É como se descascássemos uma cebola. Os falsos pensamentos são removidos, camada após camada, até deixarmos de ver não só um eu dissimulado e ilusório, mas também um eu desnudado. Aspiras a descobrires o teu eu, mas acabas por descobrir que não há nada a descobrir.
Em termos mais concretos, praticar meditação faz diminuir gradualmente a errância dos teus pensamentos até experimentares um estado de “não-mente”. Perceberás naturalmente que a tua vida no passado foi construída sobre um acumular de noções errôneas e confusas que não são o teu verdadeiro eu. O teu verdadeiro eu é um que é inseparável de todos os outros. A existência objetivo de todos os acontecimentos compreende todas as várias dimensões da existência subjetiva do teu eu. Não tens, portanto, que procurar nada nem desprezar nada. O que está diante de ti em cada momento é o que tens procurado, e não podes nem tens de lhe acrescentar nada para ele ser perfeito. Ao alcançar este estádo, o praticante de meditação torna-se compassivo para com todos os humanos e todos os outros seres. O seu caráter torna-se radioso, aberto, luminoso como a luz da Primavera. Apesar de poder manifestar emoções em prol dos outros, internamente . Tal pessoa pode ser considerada neste momento iluminada.

Segundo um ensinamento essencial do Zen, a porta interior está aberta a todos, homens e mulheres, velhos e novos, sábios e ignorantes, fortes e fracos, pessoas de todas as profissões, ofícios e origens, de qualquer religião e crença.
Todas estas palavras, no entanto, apenas falam do Zen, não são em si o Zen. A meditação Zen requer a tua determinação em aprenderes e a tua persistência em praticares. Falar do Zen sem o praticar só faz aumentar o conhecimento inútil e confuso da nossa já confusa mente. Não te é salutar alimentares-te apenas com imagens de comida.

(texto cortesia de Open Way Zen, traduzido por José Eduardo Reis)

Publicado originalmente aqui.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Don Juan mulher

Hoje falo de uma inspiração de ontem: primeira-dama francesa, Sra Carla Bruni!
Para a autora de sua biografia não autorizada, “ Carla, Une Vie Secrète" ("Carla, Uma Vida Secreta", em tradução livre), Bruni é um "Don Juan mulher”.
Ah! Carla Bruni! Personalidade forte, sensível, delicada e autêntica. Uma mulher inteligente e sensual. Filha de músicos, Carla Bruni nasceu na Itália, cresceu na França e Suíça, tem 43 anos, foi modelo, é cantora, compositora, ex-namorada de Kevin Kostner, Mick Jagger e Eric Clapton e primeira-dama da França.
Minha admiração por ela começou quando morava em Québec, Canadá nas minhas tentativas de aprender francês através da música. O que mais me chamava atenção era sua postura diante do peso de ser primeira-dama da França e dos inúmeros escândalos que envolviam seu nome. Entre eles, a recém descoberta do seu pai biológico- amante de sua mãe por 6 anos-empresário italiano erradicado no Brasil desde os anos 70.
Escandalos que ficam ainda mais em pauta por ser jovem, linda, talentosa e há 2 anos esposa do Nicolas Sarkozy, e nem por isso ter mudado seu comportamento. Entre os compromissos do governo francês com seu esposo e a música, Carlinha é uma ativista social. Visitou a embaixadora do Fundo Global e encontrou-se com famílias adotivas dos órfãos haitianos, sobreviventes da tragédia em janeiro.  Seus princípios de luta contra a AIDS receberam ate mesmo o convite de Obama abrindo possibilidade de trabalharem juntos na causa. Carla foi nomeada Embaixadora Global para a proteção de mães e crianças com HIV. Importante: ISSO COMEÇOU ANTES MESMO DE CASAR COM SARKOZY!
Admiro sua ousadia, coragem e atitude.
Para exemplificar e justificar a inspiração de ontem coloco o vídeo com a música L´excessive. Onde ela começa dizendo: “é uma canção sobre os excessos, para aqueles que gostam muito dos excessos... mmm os excessos... mmm os excessos”. Depois ela fala do cabelo bagunçado do músico ao lado, ele fala que usa do seu jeito. Ele tenta arrumar e diz: não tem jeito. Ele pergunta tudo bem? Ela responde: Oui.
O vídeo: Clique!
Eis a tradução:

Excessivo

Eu não tenho uma desculpa,
É inexplicável
Até mesmo inexorável,
É aguaceiro ao êxtase, a existência do que é,
Sem um pequeno extremo, é inaceitável,
Eu sou excessivo,
Eu gosto quando isso desequilibra,
Quando tudo acelera,
Eu, eu permaneço relaxada,
Eu sou excessivo,
Quando tudo explode,
Quando a vida se exibe,
É um transe encantador.
Alguns se excedem, outros que se irritam,
Alguns exigem que eu entre no eixo,
Alguns exclamam que é um complexo,
Alguns se excitam com todos estes " X " no texto
Eu sou excessivo,
Eu gosto quando isso desequilibra,
Quando tudo acelera,
Eu, eu permaneço relaxada,
Eu sou excessivo,
Quando tudo explode
Quando a vida se exibe
É um transe encantador, (sim)
Eu sou excessivo,
Eu gosto quando isso desequilibra,
Quando tudo exagera,
Eu, eu permaneço relaxada,
Eu sou excessivo,
Excessivamente alegre, excessivamente triste,
É, eu existo.
Mmmm, pas d'excuse ! Pas d'excuse !
Via: Terra
Au revoir!

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Contrário

Gosto dos contrastes, dos opostos, dos complementos.
Das flores e dos espinhos
O gosto do desgosto
Do bem e do mal
Do intenso e do suave
Do grito no silêncio
Da voz muda
Da lágrima de quem ri
Do riso de quem chora
Manga com feijão
Do suor frio
Gosto também do branco no preto.
Preto no branco é certo!
Quando está tudo preto e branco é meio estranho
Se misturar dá cinza e também é estranho
O estranho é que é contraste...
E o que seria do equilíbrio se não fossem os extremos, os excessos, os ardentes?
Gosto do equilíbrio, do meio termo, da sensatez
Os contrários se completam
O contra vira versos
Controverte, disputa, rebate
E converge tudo em uma coisa só

PS.  Inspiração: Roberta ,  Carla Bruni em l´excessive e todas as coisas da vida.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Nunca gostei de gérbera

Sempre gostei de flores, mas, de gérberas não. Sei lá, grandes demais, coloridas demais, elas quebram o caule fácil. Sem graça. Eu gosto é de margaridas. Das rosas também, mas, não daqueles espinhos. Espeta tanto só por causa de uma florzinha. Ah mas o que eu mais gosto e gosto mesmo, de verdade são os cravos. Os cravos são feitos de saias rendadas das moças mais velhas, as de 15. Eram tão independentes. Até podiam morar sozinhas. Sempre quis morar sozinha. E o perfume do cravo? Quando não tinha certeza, aguçava o sentido do olfato e sabia que naquele jardim tinha cravo. Só não entendia o cravo ser o masculino da história. Minhas preferidas são as de laranjeira, delicadas, cheirinho doce e dão frutos laranja cheios de uma agüinha ácida. Tem também aquela pequenininha branquinha, bem pequena mesmo e bem branca, várias em um mini buquê. Nunca sei o nome, mas, quando as vejo sei que são delas que gosto mais. Gosto tanto de flores. De todas.  Não entendo,  de gérberas eu não gosto!
 Quando corria nos jardins das minhas avós, porque ambas tem jardim e era a primeira coisa que fazia quando chegava - correr por lá, eu sabia que estava no lugar perfeito. Perfumado, colorido, um mundo que cintilava aos meus olhos e me enchia de alegria.
 Uma tinha um jardim com margaridas dos dois lados do caminho de entrada da casa que era azul, muitas margaridas! O caminho mais bonito. Em um dos lados, no fundo depois de todas as margaridas tinha um pé de limão, daquele laranja, gordo e enrugado. Era legal chegar até lá embora, mesmo que a recompensa fosse encontrar aqueles espinhos fortes, longos e pontiagudos. Nunca peguei o limão do alto, espetava o braço e a mão. O suco era feito com os que estavam no chão, eu os pegava. Não queria que apodrecessem assim, na terra. Os queria mais perto. Dentro.  Suco sem açúcar com todos os limões. Eu os pegava!  E pegava todos! Alguém mandava e ia pelas margaridas.
Na casa da outra, a entrada era uma escada, a casa azul ficava lá em cima, também com flores dos dois lados do caminho, na escada, na subida. Tinham várias e várias. De vários tipos e cores. Não dava Tempo de terminar de olhar uma e já vinha o próximo degrau com a outra. Não podia pegar nem colher, nem tocar, nem chegar muito perto para não encostar. Elas poderiam estragar e eram para ficar ali, no jardim da vó. Mesmo assim, brincava ao lado do caminho mais bonito. Caminhava entre elas: meu mundo fabuloso. Mas, evitava as gérberas, bonitas e frágeis. Elas eram grandes demais e pesavam quando tinha vento. O caule parecia que ia quebrar a qualquer momento. Não poderia encostar nas gérberas. Se ela caísse? E se quebrasse? Quando acontecia, comia parte das pétalas e enterrava o resto. Ninguém percebia. Era meu segredo. E elas ficavam em mim. Mas e partisse e junto o coração da minha vó? Melhor não. Melhor nem chegar perto. Não das gérberas. Acho que foi por isso, só por isso que sempre gostei de flores mas, não dessas. Observava a distância, em silêncio contemplativo, perto das outras e longe delas. Deu. Só isso. Só observar, de longe e quietinha. Nada de levar para casa, colocar em vaso, enfeitar a mesa. Não precisa. Ta bom assim.
Na minha casa? Ah na minha casa tinha mamão, laranja, laranja lima, limão, maracujá, pêssego, goiaba vermelha (que o não pegou) e uva. O mamão eu machucava com uma madeira que tinha um prego na ponta, gostava de ver o leitinho saindo daqueles que eram verdes. Minha mãe achou que era fungo. Eu não disse nada. Ela cortou. Eu chorei. Não gosto mais muito de mamão. Dói por dentro, não sei, prefiro preservá-los. Ah! Tinha também meu pé de jabuticaba. Eu crescia com ele, como ele, na mesma altura sempre. Eu crescia e ele também, ele crescia e eu também. Na mesma medida. Acompanhava todos os dias. Foi só eu parar de medir, lá pelos 13, 14 e o danadinho cresceu bem lá pra cima. Não deu. Na minha casa tinha frutas, era um quintal.

Hoje tem lavanda e hotelã, alecrim e manjericão, lírio e flor-de-maio. Tem mais coisas. Bem mais. Mas, vamos pelo começo. Começo adotando as gérberas. Àquelas que eram intocáveis.
P.S: Todas as flores tem significado, representam uma emoção, um sentimento. Pesquisando sobre gérberas, verifiquei que a maioria atribui o significado de "Beleza" às gerberas. Achei um site que tem a descrição mais detalhada, gostei. " A gerbera significa a pureza e inocência das crianças.A beleza da vida e a energia positiva da natureza. Representam também a sensibilidade e sensualidade , amor e nobreza , alegria e simplicidade e a pureza." Via: Rebeca flores.